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Discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia de anúncio de investimentos da Gerdau Açominas
Ouro Branco-MG, 28 de junho de 2006
Meu caro Jorge Gerdau,
Meus caros ministros que me acompanham nesta visita à Açominas,
Meus companheiros trabalhadores,
Clientes da Gerdau,
Fornecedores,
Convidados,
E jornalistas que estão aqui,
Um abraço especial aos prefeitos que estão aqui, o nosso prefeito de Belo Horizonte, o Pimentel; o Padre Rogério, de Ouro Branco; o Júlio César de Almeida, de Conselheiro Lafaiete; o Anderson Costa, de Congonhas,
Nosso querido Dom Luciano,
Meu caro Wilson Brumer, secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais,
Meu caro Renato Moreira Figueiredo, vice-prefeito de Ouro Preto,
Deputados estaduais,
Deputados federais,
Vereadores,
Meu caro Luiz André Rico Vicente, vice-presidente executivo da Gerdau Açominas,
Meu caro Marco Antônio Pepino, presidente do Clube de Participação Acionária dos Empregados da Açominas,
Meus amigos e minhas amigas,
A minha visita hoje é, na verdade, um tributo, uma homenagem que nós fazemos a quem acredita no Brasil, a quem investe no Brasil e a quem deposita parte da sua vida neste país.
Acho que todo mundo aqui conhece um pouco a vida do Gerdau, todo mundo sabe que com 14 anos de idade ele já era fabricante de pregos, obrigado, certamente, pelo seu pai, pelo seu avô, pelo seu tataravô. E o resultado do comportamento do teu pai, ao te levar, com 14 anos, para uma oficina, para trabalhar, Gerdau, é a confirmação de que o trabalho não faz mal a ninguém, é a confirmação de que o trabalho é um instrumento de dignificação da espécie humana.
Tem gente que gosta de um feriado, todos nós gostamos, mas eu não sei o que seria o mundo sem o trabalho e acho que ele seria melhor se nós começássemos a trabalhar, eu diria, no tempo certo. Eu comecei a trabalhar possivelmente com a mesma idade de muitos de vocês que estão aqui, com 14 anos de idade. Era um tempo em que a gente começava a trabalhar com 14 anos de idade. Hoje, todos nós, que temos condições, queremos que os nossos filhos tirem diploma universitário para depois trabalharem.
Mas eu acho que visitar uma empresa como esta, de um empresário que acredita no Brasil, de um empresário que ousou virar um empresário multinacional – o Gerdau sabe que na primeira viagem que eu fiz para a África, em Angola, eu fiz um depoimento dizendo que estava na hora dos empresários brasileiros pararem de pensar pequeno, de ser covardes e começar a virar empresas multinacionais.
Hoje, nós temos várias empresas brasileiras que estão comprando empresas fora. Tem gente que acha que isso é ruim, porque gera emprego lá fora, acontece que se não comprar lá fora, não compra aqui dentro, porque compra, na verdade, é oportunidade. E eu acho que o Gerdau é um exemplo disso.
Mas um outro exemplo, aqui, é exatamente aqui, na Açominas, e nesta região, de Paraopeba – eu achava que Paraopeba era uma região só do Pará, mas já vi que é aqui, em Minas Gerais –, pois bem, aqui, eu, desde que desci do helicóptero, estou ouvindo falar: “porque o Pepino é isso, porque o Pepino é aquilo, porque o Pepino ajudou…”. Ou seja, quando a gente vai fazer alguma coisa, quando a gente vai disputar uma eleição, o cara fala: “Ih, você vai pegar um pepino que você vai ver. Isso é um pepino”. Eu já vi que a Açominas tem um único Pepino, que é motivo de orgulho, que dá certo.
Quero dizer para vocês que o Gerdau me contou um pouco a história e outros companheiros também, do esforço que os trabalhadores fizeram para esta empresa estar nessa situação. Há quem diga que, se não fosse a dedicação de alguns trabalhadores, possivelmente esta empresa não estivesse festejando, hoje, os seus 20 anos. Trabalhadores que pegaram o seu Fundo, que eles tinham para garantir a sua própria aposentadoria, e jogaram na empresa, acreditando que assim era possível sobreviverem por conta da geração dos empregos que eles tanto precisavam aqui, dos impostos que as cidades precisavam para sobreviver. E, depois, na visita à empresa, eu cumprimentei bastante gente. Eu tenho o hábito de cumprimentar as pessoas, eu tenho o hábito de pegar na mão, às vezes o meu cerimonial acha ruim, a minha segurança acha ruim, mas eu acho impossível vir a um lugar e não cumprimentar as pessoas, não pegar na mão. Um aperto de mão é o mínimo que se espera que um presidente da República dê às pessoas que trabalham neste país.
Uma coisa, Gerdau, que me chamou a atenção, é a quantidade de pessoas jovens, mas que já têm 15, 18, 20 anos de empresa. Quando um cidadão chega a fazer 20 anos em uma empresa – eu trabalhei 17 em uma empresa – aquilo passa a fazer parte da vida da gente. É como se fosse um filho, é como se fosse um parente, ou seja, a gente não consegue mais viver sem o cotidiano daquela empresa. Segundo, o motivo extraordinário e o orgulho das pessoas novas que eu cumprimentei ali, ou seja, pessoas que estão aqui exercendo o seu primeiro emprego formal, pessoas que aprenderam uma profissão, estão aqui trabalhando. E também, Gerdau, o orgulho teu. O Gerdau, se fosse um jogador de bola, seria mais ou menos como o Ronaldinho, alegre, otimista, acreditando que é possível fazer as coisas, porque o Gerdau fala da recuperação desta empresa, dos investimentos que estão fazendo aqui, como se estivesse falando de um filho que estivesse nascendo, como se fosse uma coisa saída do ventre da esposa dele, pelo orgulho, pelo carinho e pela perspectiva que ele tem. Só faz isso quem acredita no Brasil, só faz isso quem acredita no povo brasileiro, no trabalhador brasileiro. Não está preocupado se tem eleição este ano, no ano que vem, em dois anos. Eleição passa, de quatro em quatro anos mudam as pessoas, agora, os projetos estruturais, ficam para sempre, geram riqueza, geram trabalho e geram cidadania.
Por isso, eu não poderia deixar de vir aqui dizer para vocês que eu vi aqui muito bem a reivindicação do Pepino e a reivindicação do Gerdau. Primeiro, Gerdau, você sabe que nós estamos trabalhando já há algum tempo, por pedido do companheiro ministro Luiz Furlan, nós estamos tentando encontrar um meio de fazer com que o investimento não seja onerado por impostos. Por enquanto, o que nós podemos fazer é discutir a parte federal, que não é a maior parte. A maior parte dos impostos são os impostos estaduais e eu acho que haverá um momento em que o presidente da República, os ministros, os governadores de estado e o Congresso Nacional estarão convencidos de que nós não podemos cobrar impostos de alguém que vem fazer um projeto e vai pagar impostos depois que começar a produzir e ganhar dinheiro. Nós não podemos cobrar do investimento. Isso já tem quase que uma massa crítica formada dentro do governo e nós precisamos fazer com que essa massa crítica perpasse os governos dos estados, os prefeitos, para que a gente possa desonerar os investimentos, porque nós fazemos um sacrifício enorme para atrair o investimento, quando ele vem, um investimento de 1 bilhão de reais, você paga 250, 300 de impostos. Então, esse dinheiro poderia ser investido para fazer um pouco mais. Quando é que o governo vai arrecadar? Quando a empresa começar a produzir e começar a ganhar dinheiro, aí o governo vai arrecadar. Nós estamos caminhando para isso, viu, Gerdau. Isso não pode ser feito na base do rompante, isso tem que ser pensado, porque cada vez que o Estado deixa de receber de um lado, ele precisa criar condições de sobreviver sem aquele dinheiro. Então, essa é uma coisa que nós estamos pensando muito a sério.
Eu estou convencido, Gerdau, que a diminuição dos impostos é o aumento da arrecadação do Estado. Nós estamos vendo, agora, com a construção civil, quando nós desoneramos 38 produtos da construção civil, que permite se fazer uma casa comprando desde a telha ao vitrô, à lajota, ao azulejo, sem impostos, o que está acontecendo com a construção civil? A construção civil brasileira voltou a crescer tanto que, só no mês de maio, gerou 70 mil novos empregos, coisa que estava parada há 20 anos. Há 20 anos que a construção civil neste país estava parada, estava andando para trás. E nós achamos que crescendo a construção civil, vai crescer mais o Grupo Gerdau, que vai vender mais ferro e tudo vai melhorar neste país. Então, essa é uma coisa. A outra coisa é a respeito da educação. Eu vi a reivindicação do Pepino, eu queria dizer o seguinte: nós vamos terminar este mandato agora, nós já consagramos quatro universidades federais novas, nós já transformamos seis faculdades em universidades e estamos inaugurando 42 extensões universitárias para todo o interior do país. E todas começam a funcionar, a maioria, em agosto e, uma meia dúzia, em janeiro do ano que vem. E estamos fazendo mais 42 escolas técnicas, que iremos inaugurar até dezembro, porque no Brasil estava proibido fazer escola técnica desde 1998, tinham tirado do governo Federal a responsabilidade de fazer escola técnica.
Quem viaja o mundo sabe que não há nenhuma possibilidade do país se desenvolver se não tiver uma mão-de-obra altamente qualificada. Se não tiver essa mão-de-obra qualificada, nem o país cresce, nem o país será competitivo, nem as empresas brasileiras poderão competir com qualquer outro país do mundo. Portanto, nós estamos convencidos de que a educação é a peça primordial para que o Brasil dê um salto de qualidade que não deu no século XIX e que jogou fora no século XX. E nós não vamos perder o século XXI, não vamos permitir que outro país cresça (inaudível).
E aí, por conta das reivindicações feitas por todo mundo, desde que cheguei aqui, de helicóptero… Eu liguei para o ministro da Educação, Fernando Haddad, expliquei para ele o projeto, que a empresa já fez a concessão para que o ex-escritório pudesse se transformar numa extensão da Universidade Federal de São João Del Rei, já me falaram que dezenas de ônibus saem daqui com trabalhadores com macacão e tudo que vão estudar. Obviamente que não dá para fazer isto até amanhã, porque teria que fazer Medida Provisória, teria que contratar gente, depois do dia 30 não se pode contratar mais ninguém, é proibido por lei. O Brasil é o único país em que as eleições impedem que a gente governe. Mas é assim para todo mundo, não é só para mim, então, eu não tenho do que me queixar. Eu tenho apenas que dizer para vocês que este ano não é possível fazer. Mas dizer para vocês que esta semana, Gerdau, o Ministro da Educação vai mandar fazer uma vistoria na área, eu sei que o reitor da universidade já veio aí. E quero dizer para os trabalhadores: estejam certos que em janeiro vocês já poderão ter feito vestibular para começar a estudar aqui mesmo, na região onde vocês moram.
A idéia é tentar tirar o atraso do tempo que não se investiu em educação. Se você quiser, Gerdau, você que é um homem estudioso, você pega os investimentos em universidades brasileiras desde 1920 para você ver o que aconteceu no Brasil e para você ver quantos descasos houve neste país com a educação. E aí o país não conseguiu dar o salto de qualidade. A gente fica admirando a Coréia, fica admirando Singapura, fica admirando a China, que foram países que investiram no momento certo e na hora certa. Até outro dia no Brasil quando se falava em educação, falava-se em gasto. Hoje, a consciência que está perpassando na nossa consciência, qual é? O que está passando na nossa cabeça hoje é o seguinte: se a gente não investir em educação hoje, a gente vai ter que investir em cadeia amanhã, a gente vai ter que investir em mais segurança, cada um vai ter um cachorro mais forte dentro de casa, cada um vai fazer o muro mais alto. Assim é o mundo. Então, não tem salvação se não for a educação. Eu, quando vi aquelas meninas – o Gerdau estava comigo quando eu as cumprimentei – que se formaram, uma fez um curso “daquilo”, outra fez um curso técnico, e todas estão trabalhando com alegria, o prazer de a pessoa trabalhar, porque não tem nada mais dignificante do que chegar ao final do mês, levar para casa o ganha-pão para a nossa família às custas do nosso suor, às custas do nosso conhecimento.
Por isso, Gerdau, quero te dar os parabéns. Parabéns por acreditar no Brasil, parabéns por este investimento, parabéns por encontrar um parceiro como todos esses trabalhadores aqui, representados pelo nosso querido Pepino, e dizer para você, Gerdau, que da parte do governo federal – você sabe porque é chamado a participar de muita coisa junto conosco – você sabe que nós estamos em uma rota muito interessante. Eu, de vez em quando, falo que nós estamos vivendo um certo momento mágico no Brasil, porque a economia do Brasil está sóbria, os juros estão baixando. Você viu que a TJLP vai cair outra vez, você viu que os juros da Taxa Selic estão caindo, e isso vai significar o quê? Aumento de emprego neste país, aumento de investimento. O BNDES tem dinheiro para investir, nós estamos discutindo como encontrar outros Fundos para que a gente possa fazer investimento em infra-estrutura, você tem o sonho de produzir trilhos aqui… Você está lembrado que, há pouco tempo, o Brasil não produzia um vagão sequer, um único vagão. A gente importava vagão da China e hoje nós já estamos produzindo. Só a fábrica Iochpe já tem 7 mil vagões de encomenda, logo, logo, estaremos produzindo locomotivas no Brasil. Estou convencido do seguinte: este século tem que ser nosso. O século XIX foi da Europa, o século XX foi dos Estados Unidos, a China tentou pegar o final do século XX e o começo do XXI, mas nós não temos por que não transformar esses primeiros anos do século XXI no século do Brasil, para que a gente se transforme em uma nação desenvolvida, em uma nação geradora de riquezas, em uma nação geradora de conhecimento e em uma nação que possa distribuir essa riqueza de forma mais justa.
Hoje estou duplamente feliz. Não sei se vocês têm acompanhado, tem momentos muito importantes. Hoje, por exemplo, eu fui a Contagem, hoje nós conseguimos atingir a meta que eu disse, em janeiro de 2003, no meu discurso de posse. Hoje nós completamos 11 milhões e 100 famílias recebendo o Bolsa Família. É um recorde de tempo extraordinário. Há pouco tempo a Petrobras anunciou a sua independência de petróleo. Na semana passada eu fui ao Paraná anunciar o novo combustível chamado H-Bio, que é brasileiro, patenteado pela Petrobras, portanto, quem quiser utilizar H-Bio vai ter que pagar royalties para nós. Esta semana estarei assinando o Protocolo da TV Digital, com a possibilidade de termos, no Brasil, uma fábrica de semicondutores, fazendo o Brasil entrar na revolução da microeletrônica.
Então, está tudo preparado, Gerdau. Mais uns 50 empresários com a sua disposição e mais uns 200 Pepinos espalhados por este país, nós estaremos certos que o Brasil… E Deus queira que eu seja um Pepino igual ao teu Pepino aqui.
Muito obrigado. Parabéns e que Deus nos ajude.